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21/10/2011

O primeiro carro em Porto Alegre

A foto acima, quase desconhecida, foi garimpada pela fotógrafa Eneida Serrano no acervo de um pioneiro fotógrafo amador, no Rio Grande do Sul, que usava o pseudônimo de Lunara. Provavelmente o “retratista” preparou a câmera para que alguém batesse a foto e ele pudesse aparecer, refestelado e comodamente alojado, no banco traseiro (bem à esquerda) do primeiro automóvel a circular nas ruas de Porto Alegre.

O carro, um De Dion Bouton 1906, foi importado da França naquele ano por Januário Grecco (sentado no banco dianteiro, ao lado do irmão), um próspero comerciante de alimentos que representava as Indústrias Matarazzo de São Paulo aqui no Estado. Lunara, amigo de Grecco, era a composição das três primeiras sílabas do nome do destacado empresário Luiz Nascimento Ramos (1864 – 1937), que também trabalhava com secos & molhados e tinha na fotografia seu hobby predileto.

Quando o automóvel foi desembarcado do navio, no cais da Alfândega não havia quem soubesse manejá-lo. O proprietário teve de recorrer aos préstimos de um detento da Casa de Correção, Marini Constanti, italiano e familiarizado com mecânica e operação de veículos motorizados.

O carro foi empurrado até o Cadeião do Gasômetro e, dentro do pátio da penitenciária, foi acionado pela primeira vez. Marini ganhou autorização para sair algumas vezes do presídio, como motorista dos Grecco.

A Capital tinha 70 mil habitantes e nessa época o Código de Veículos de 1893 não previa o transporte motorizado. Em 1913, já com 188 automóveis registrados, a lei foi regulamentada: tornou-se obrigatório o uso de lanternas à noite e de buzina a cada esquina, e a velocidade máxima permitida era de 6km/h no centro, 10km/h nos bairros afastados e 15km/h fora da cidade.

Hoje, 708 mil carros ocupam as ruas do município. Felizmente nem todos buzinam nas esquinas.

Mais em: Almanaque Gaúcho

Fonte: Almanaque Gaúcho. ZH dia 21/10/2011

28/08/2011

Nem por UM MINUTO!!


Ótima produção,

O uso indevido de vagas destinadas a pessoas com deficiência em estacionamentos de estabelecimentos – que resultou no lançamento da campanha “Esta vaga não é sua nem por um minuto” em meados de março deste ano – é o foco do vídeo que a agência TheGetz colocou no ar neste fim de semana nas redes sociais.

Como a principal desculpa para a ocupação de vagas exclusivas para deficientes e idosos é sempre a do pouco tempo de permanência no estabelecimento, o “apenas um minuto”, a TheGetz colocou cadeiras de rodas em vagas normais e registrou a reação das pessoas em um estacionamento de Curitiba. O resultado é o vídeo que pode ser visualizado nas páginas da campanha no Facebook, Twitter, Youtube e Vimeo. O filme também pode ser acessado pelo blog do movimento.


19/08/2011

Quem paga o pato no transporte?




Quando o transporte público não funciona, quem paga o pato?
Quando trens não funcionam, ruas entopem de carros, ônibus superlotam quem paga o pato?
Quem???

06/08/2011

Nossa casa no meio da rua

Esses dias, vendo televisão, reparei naquela propaganda da Citroen (C3 Picasso) que traz uma música em inglês ilustrando a peça publicitária. A música (Our House in the Middle of the Street) em questão diz no refrão, em livre tradução: "Nossa casa no meio da rua...). Entendo que os publicitários queriam reforçar os aspectos de conforto e o perfil familiar do carro, mas me chamou mais a atenção os aspectos subjetivos presentes nesse tipo de publicidade automotiva. O carro, sabemos bem, é muito mais que um patrimônio material para boa parcela das pessoas. Um carro é status, signo de prosperidade pessoal e as vezes também serve "até como meio de transporte...". Ver o carro como estensão da casa é o que tem gerado muita confusão nas cabeças menos atentas. Condutores portando-se em seus veículos como se em casa estivessem: Comem, bebem, falam ao telefone, fazem barba, cabelo e bigode ao volante, afinal o carro é nossa casa também, não é ?!

05/08/2011

O frio!!!



Transitar pela Serra gaúcha nos últimos dias tem sido um ato de coragem e persistência...

(tá bom, exagerei um pouco, mas que tá frio ninguém nega, hehehe)

24/06/2011

DESCONSIDEM AS “ASPAS” (parte 1).

Um grupo de manifestantes, irritados com a situação de nosso trânsito, protestava aos gritos em uma grande avenida da cidade. A tranqueira que isso ocasionava era de pelo menos três quilômetros de carros, ônibus e caminhões. As buzinas gritando e os xingamentos dos motoristas só aumentavam ainda mais a barulheira vinda do protesto insólito que acontecia. Os manifestantes, com ares, olhares e  atitudes quixotescas gritavam: Abaixo à poluição, menos carros, mais amor e menos rancor! Andar a pé é muito bom; Viva aos pedestres, Viva a bicicleta e o transporte público!

     Em meio a esse grupo, estava eu, procurando fazer a minha parte como bom defensor que sou de um trânsito mais humano, seguro e sustentável. Ao conversar com um colega “rebelde” como eu, ressaltava a necessidade de “mudar nossos” paradigmas: "Precisamos buscar novas propostas de vida e mobilidade, as nossas cidades estão morrendo, estão morrendo cara! Cada um tem que fazer a sua parte..."  Nesse momento lembrei de um exemplo que conhecia, um grande amigo, que já há um bom tempo “nadava contra a maré” e resistia às “bestas máquinas bebedoras de petróleo”.
Cael Rojo, ou somente Kbça, era assim que os amigos o chamavam desde o tempo de escola*. "Esse maluco era um exemplo a ser seguido", dizia eu. Mesmo tendo possibilidade financeira para adquirir um carro o sujeito ainda optava pelo transporte público, pela bicicleta e uma boa caminhada. (em uma cidade sem ciclovias, com calçadas esburacadas e com ônibus caros, isso o tornava mais "especial" ainda!).
O cara era tão firme em suas convicções que nem mesmo celular tinha, e isso que a sua namorada já havia lhe dado uns dois aparelhos de presente. Ele achava que os celulares eram como os carros, haviam sidos feitos inicialmente para ganhar tempo e dar liberdade aos seus usuários, mas na verdade essas máquinas escravizavam as pessoas e tiravam suas autonomias. Quase todos os infortúnios de sua vida estavam ligados em maior ou menor grau e esses objetos os quais repudiava. Ninguém podia negar que ele tinha uma boa dose de razão em não querer ser consumido por carros e celulares.
   Certa vez, ao chegar em seu serviço, começou a ouvir um barulhinho lá no fundo de sua mochila (Cael levava sua vida naquela mochila, era uma versão masculina das caóticas e bagunçadas bolsas femininas), ao remexê-la por vários segundos acabou vendo um celular tocando e vibrando. Pegou o aparelho, atendeu, disse duas ou três frases e desligou, sua namorada na época, a “Lindinha”, havia esquecido ou "perdido" o telefone em sua mochila. Para Cael Rojo aquele momento reforçou ainda mais seus 'asco' pelo celular. Vejam a sua infelicidade, a ligação que atendeu revelava que sua amada “Lindinha” tinha outros “amigos”. O namoro acabou e os celulares foram excomungados definitivamente pelo meu amigo, pobre Kbça....

Mas fora essas idiossincrasias, ele era bem "normal", pelo menos eu achava. Em resumo, Cael tinha um bom emprego em uma repartição pública, tomava uns tragos com os amigos nos finais de semana, fazia mestrado na UFRGS, jogava uma bola e arranjava umas namoradinhas bem jeitosas de vez em quando (apesar de nunca ter superado completamente o que “Lindinha” havia feito a ele). Reforçando meu pensamento, poderíamos dizer então que ele era um cara “normal”, a não ser pelo fato de que ele se recusava a dirigir e ter celular. Para muitos pareceria pouco, mas isso para mim bastava para torná-lo meu “herói”. Ele era a prova viva de que existia vida sem o celular e carros, ele era “o cara”... continua, espero....







* O tempo de escola é outra história a ser escrita. Nessa época não tínhamos carro, mas circulávamos toda a cidade, a pé e de ônibus. Desejávamos ardentemente um carro para fazer tudo aquilo que já fazíamos... outros tempos, outras velocidades

Rir para não chorar

10/06/2011

Amigos

*Quando digo a palavra amigo
minha alma abre os postigos.
Amigo é um código sem artigos.
É um sentimento tão mais recente
quanto mais antigo.

Amigo não chega na hora da colheita.
Vem plantar o trigo.
Amigo que é amigo desafia as leis do tempo
e do espaço. Viaja no vento, longe, está contigo...

Passar por essa existência sem amizades verdadeiras seria algo extemamente triste. Que bom que exitem os amigos que nos acompanham pelos caminhos que trilhamos. Admiro as amizades, elas são a prova de que a humanidade brilha em nós.


* CANÇÃO DO AMIGO - De Luiz Coronel

31/05/2011

Consulta dos níveis de emissão dos veículos novos brasileiros.


Já existe, desde 2010, a possibilidade de compararmos o nível de poluição e eficiência energética dos carros fabricados no Brasil. O INMETRO faz o teste e coloca a disposição para quem quiser saber e/ou comparar como estão nossos veículos. Existe uma normatização determinando que esses valores sejam divulgados e até um selo, como esse ao lado, seja posto nos automóveis para que a população saiba o tipo de produto está adiquirindo. O passo seguinte, penso eu, seria o governo abrir a mão de parte dos impostos (sonha Marcelo!) para aqueles veículos que fossem mais eficientes, fomentando asim que a nossa frota se tornasse menos poluente. De qualquer forma, é no mínimo curioso, saber se seu carro está bem ou mal classificado.






http://servicos.ibama.gov.br/ctf/publico/sel_marca_modelo_rvep.php

26/05/2011

Automovelcracia III: O anjo exterminador

por eduardo Galeano.


Em 1992 houve um plebiscito em Amsterdã. Os habitantes desta cidade holandesa decidiram reduzir à metade o espaço, já bastante limitado, ocupado pelos automóveis. Três anos mais tarde, foi proibido o trânsito de carros particulares em todo o centro da cidade italiana de Florença, proibição essa que incluirá a cidade inteira à medida que se multipliquem os bondes, as linhas de metrô, os calçadões e os ônibus. Além, é claro, das ciclovias: dentro de pouco tempo será possível atravessar toda a cidade sem riscos, pedalando num meio de transporte que custa pouco, não gasta nada, não invade o espaço humano nem envenena o ar.


Enquanto isso, um relatório oficial confirmava que os automóveis ocupam um espaço bem maior do que as pessoas na cidade norte-americana de Los Angeles, mas lá ninguém pensou em cometer o sacrilégio de expulsar os invasores.
A quem pertencem as cidades? – Amsterdã e Florença são exceções à regra universal de usurpação. O mundo foi motorizado velozmente, à medida que as cidades e as distâncias cresceram, e os meios de transporte público abriram caminho para o automóvel particular. O presidente francês Georges Pompidou exaltou esse movimento dizendo que “é a cidade que precisa se adaptar aos automóveis e não o inverso”. Mas suas palavras ganharam um sentido trágico quando foi revelado que as mortes por poluição na cidade de Paris aumentaram brutalmente durante as greves do final do ano passado: a paralisação do metrô multiplicou as viagens de automóvel e esgotou os estoques de máscaras antipoluentes.

Na Alemanha, em 1950, trens, ônibus, metrôs e bondes transportavam três quartos da população; hoje, levam menos de um quinto. A média européia caiu para 25%, o que ainda é muito se comparado aos Estados Unidos, onde o transporte público atinge apenas 4% do total. Henry Ford e Harvey Firestone eram amigos íntimos, e ambos se davam extremamente bem com a família Rockefeller. Essa afeição recíproca desembocou numa aliança de influências que esteve diretamente relacionada com o desmantelamento das linhas de trens e a criação de uma vasta rede de estradas, em todo o território norte-americano. Com o passar dos anos, nos Estados Unidos e no mundo inteiro, tornou-se cada vez mais esmagador o poder dos fabricantes de automóveis e de pneus,e dos industriais do petróleo. Das sessenta maiores empresas do mundo, metade pertence a esta santa aliança ou está de alguma forma ligada à ditadura das quatro rodas.

Dados para um prontuário – Os direitos humanos terminam onde começam os direitos das máquinas. Os automóveis emitem impunemente um coquetel de substâncias assassinas. A intoxicação do ar é espetacularmente visível nas cidades latino-americanas, mas é bem menos notada em algumas cidades do Norte do mundo.A diferença é explicada, em grande parte, pelo uso obrigatório dos catalisadores e da gasolina sem chumbo. No entanto, a quantidade tende a anular a qualidade, e esses progressos tecnológicos vão perdendo seu impacto positivo diante da proliferação vertiginosa do parque automotivo, que se reproduz como se fosse formado por coelhos.

Visíveis ou dissimuladas, reduzidas ou não, as emissões venenosas formam uma extensa lista criminosa. Para dar apenas três exemplos, os técnicos do Greenpeace denunciaram que é dos automóveis que provém mais da metade do total do monóxido de carbono, do óxido de nitrogênio e dos hidrocarbonetos, que tão eficientemente contribuem para a destruição do planeta e da saúde humana. “A saúde não é negociável. Chega de meios-termos”, declarou o responsável pelo setor de transportes de Florença, no início do ano. Mas em quase todo o mundo, parte-se do princípio de que é inevitável que o divino motor, em plena era urbana, seja o eixo da vida humana.

Copiamos o que há de pior – O ruído dos motores não deixa ouvir as vozes que denunciam o artifício de uma civilização que te rouba a liberdade para depois vendê-la, e que te corta as pernas para te obrigar a comprar automóveis e aparelhos de ginástica. Impõe-se no mundo, como único modelo possível de vida, o pesadelo de cidades onde os carros mandam, devoram as zonas verdes e se apoderam do espaço humano. Respiramos o pouco de ar que eles nos deixam; e quem não morre atropelado sofre de gastrite por causa dos engarrafamentos.

As cidades latino-americanas não querem se parecer com Amsterdã ou Florença, e sim com Los Angeles, e estão conseguindo se transformar numa horrorosa caricatura daquela vertigem. Levamos cinco séculos de treinamento para copiar em vez de criar. Já que estamos condenados à copiandite, poderiamos escolher nossos modelos com um pouco mais de cuidado. Anestesiados pela televisão, publicidade e cultura de consumo, engolimos a história/estória da chamada modernização, como se essa brincadeira de mau gosto e humor negro fosse o abracadabra da felicidade.

11/05/2011

Liturgia do divino motor

De vez enquando é bom ouvir/ler alguém que destoe do coro 'único' em favor da vida motorizada e nos faça pensar. Nesse sentido ler Eduardo Galeano é sempre positivo. É bom não esquecer que quando paramos de questionar nos amansamos e nos acomodamos. Penso que a mansidão cômoda serve bem a rebanhos, não a homens livres.


Liturgia do divino motor

Por Eduardo Galeano

"Com o deus de quatro rodas acontece aquilo que costuma acontecer com os deuses: nascem a serviço das pessoas, mágicos conjuros contra o medo e a solidão, e acabam pondo as pessoas a seu serviço. A religião do automóvel, que tem seu vaticano nos Estados Unidos da América, tem o mundo de joelhos a seus pés.

Seis, seis, seis – A imagem do Paraíso: todo norte-americano possui um carro e uma arma de fogo. Os Estados Unidos detém a maior concentração de automóveis e também o mais numeroso arsenal de armas num único país, os dois negócios básicos da economia nacional. Seis, seis, seis: de cada seis dólares gastos pelo cidadão médio, um é consagrado ao automóvel; de cada seis horas de vida, uma é dedicada a viajar de carro ou a trabalhar para pagá-lo; e de cada seis empregos, um está direta ou indiretamente ligado ao automóvel, e outro está direta ou indiretamente ligado à violência e suas indústrias.

Quanto mais gente os automóveis e as armas assassinarem, e quanto mais natureza eles destruírem, mais crescerá o Produto Interno Bruto. Como bem diz o pesquisador alemão Winfried Wolf, em nosso tempo, as forças produtivas transformaram-se em forças destrutivas. Talismãs contra o desamparo ou convites ao crime? A venda de carros é simétrica à venda de armas, e bem se poderia dizer que faz parte dela: os acidentes de trânsito matam e ferem, a cada ano, mais norte-americanos do que todos os norte-americanos mortos e feridos ao longo da Guerra do Vietnã, e a carteira de motorista é o único documento necessário para qualquer um comprar uma metralhadora, e com ela cozinhar à bala toda a vizinhança.

A carteira de motorista não é apenas usada para estes fins; ela também é imprescindível para pagamentos com cheques ou para sacá-los, para fazer um trâmite burocrático ou para assinar um contrato. Nos Estados Unidos, a carteira de motorista serve como documento de identidade. Os automóveis outorgam identidade às pessoas.

Os aliados da democracia – O país conta com a gasolina mais barata do mundo, graças aos presidentes corruptos, aos xeques de óculos escuros e aos reis de opereta que se dedicam a malvender petróleo, a violar direitos humanos e a comprar armas norte-americanas. A Arábia Saudita, por exemplo, que aparece nos primeiros lugares das estatísticas internacionais pela riqueza de seus ricos, pela mortalidade de suas crianças e pelas atrocidades de seus verdugos, é o principal cliente da indústria norte-americana de armas.

Sem a gasolina barata fornecida por estes aliados da democracia, o milagre não seria possível: nos Estados Unidos, qualquer um pode ter um carro e muitos podem trocá-lo freqüentemente. E se o dinheiro não for suficiente para o último modelo, já estão à venda aerosóis que dão aroma de nova àquela velharia comprada três ou quatro anos antes, àquele autossauro.

Dizes que carro tens e eu te direi quem és e quanto vales. Esta civilização que adora carros tem pânico da velhice: o automóvel, promessa de juventude eterna, é o único corpo que pode ser trocado.

A gaiola – A esse outro corpo, o de quatro rodas, é dedicada a maior parte da publicidade na televisão, a maior parte das horas de conversa e a maior parte do espaço das cidades. O automóvel dispõe de restaurantes para se alimentar de gasolina e óleo, e tem a seu serviço farmácias para comprar remédios, hospitais para ser examinado, diagnosticado e curado, dormitórios para dormir e cemitérios para morrer.

Ele promete liberdade às pessoas; por alguma razão as estradas são chamadas de freeways, caminhos livres, e no entanto atua como uma gaiola ambulante. O tempo de trabalho humano foi reduzido em pouco ou nada, e porém ano após ano aumenta o tempo necessário para ir e voltar ao trabalho, devido ao trânsito atolador, que nos obriga a avançar penosamente e às cotoveladas.

Vive-se dentro do automóvel e ele não larga do nosso pé. Drive by shooting sem sair do carro, à toda velocidade, pode-se apertar o gatilho e disparar a esmo, como está em voga nas noites de Los Angeles. Drive thru teller, drive by eating, drive in movies: sem sair do carro pode-se sacar dinheiro do banco, comer hambúrgueres e assistir a um filme. E sem sair do carro pode-se contrair matrimônio, drive in marriage: em Reno, Nevada, um casal passa com o seu automóvel por baixo de arcadas de flores de plástico; numa janelinha aparece a testemunha e na outra o pastor, que os declara marido e mulher, bíblia nas mãos e, na saída, uma funcionária ornamentada de asas e auréola entrega a certidão de casamento e recebe a gorjeta, chamada de love donation.


O automóvel, corpo renovável, tem mais direitos que o corpo humano, condenado à decrepitude. Os Estados Unidos da América empreenderam, nestes últimos anos, a guerra santa contra o demônio do fumo. Nas revistas, a publicidade dos cigarros aparece atravessada por obrigatórias advertências à saúde pública. Os anúncios advertem, por exemplo: “A fumaça do cigarro contém monóxido de carbono”. Mas nenhum anúncio de automóveis adverte que muito mais monóxido de carbono contém a fumaça dos automóveis. As pessoas não podem fumar. Os carros, sim."

04/05/2011

Meu filho pedalando e muito mais: Tudo em um SEGUNDO!


Meu filho pedalando e muito mais: Tudo em um SEGUNDO!


Tudo aconteceu em uma bela tarde de outono. Foi assim: de repente, quando me dei por conta estava lá, parado como um poste, hipnotizado, com o meu olhar fixo naquele pedacinho de gente que ziguezagueava em sua bike pela área de estacionamento do condomínio.

Naquele segundo em que reconfirmei minha condição de “Pai coruja” (cheio de orgulho em ver a cria pedalando e sorrindo como somente uma criança sabe), foi também o momento em que me dei conta que a “roda da vida” havia girado para mim, agora como pai via o mundo de outra perspectiva e isso foi uma ótima sensação...

Foi um segundo intenso, passaram pela minha mente várias lembranças, indagações, constatações e outros tantos sentimentos que nem sei bem explicar, e isso tudo aconteceu sem um único gole de cerveja! Fiquei mais alguns instantes fruindo o momento e me dei conta que era pura verdade o que dizem os mais velhos: Ser pai é vibrar com as conquistas de seus filhos, dividir suas incertezas e confiar em seus potenciais. A frase é batida, mas é a pura verdade: As vitórias dos filhos são também dos pais.

Isso tudo me fez sentir uma pessoas melhor e capaz de entender na totalidade o amor que recebi em casa. Talvez um dia meu pequeno garoto tenha esse mesmo sentimento ao ver meus netos pedalando, quem sabe?


Vêeeem pedalar paaaiii!


Era meu ciclista favorito gritando, larguei de bobeira e fui correndo pegar uma bicicleta! Aprendi que ser pai é também pedalar junto!




01/03/2011

De quem é essa cidade???


De quem é essa cidade?

De quem é essa cidade, afinal? Essa é a pergunta que me vem à cabeça quando leio as notícias sobre o nosso trânsito. Sinto uma quase depressão, uma tristeza que me aperta o peito e faz pensar se é esse o lugar que quero para criar meus filhos, cultivar amizades e depositar minha existência. Será que é possível viver feliz em um lugar no qual máquinas são mais importantes que pessoas?
Em Porto Alegre (e em milhares de outras cidades) a regra é bem clara: A PRIORIDADE É PARA QUEM TEM CARRO. Os que ousam desafiar esse pensamento são vistos como lunáticos, seres quixotescos que não devem ser levados muito a sério. Os carros não têm vida, nada mais são do que pedaços de metal e outros componentes, criados pelo homem para nos servir... Mas o fato é que o carro e toda a ideologia embutida em seu uso traz consigo um pesado fardo para a vida em comunidade. Poluição, acidentes, ocupação de espaços verdes para a construção de estacionamentos e pistas de rolamento seguem em um ritmo frenético e que nunca será saciado.
A prefeitura (a atual e anteriores) segue a mesma cartilha surrada há décadas, privilegiando as máquinas e esquecendo das pessoas. Quantas ciclovias foram efetivamente feitas? Quantas pessoas, todos os dias, tropeçam em calçadas desniveladas, esburacadas e mal iluminadas? Pergunto: isso também não são acidentes de trânsito? Calçadas e ciclovias não merecem também a nossa atenção?
Esses são apenas alguns dos motivos que me levam a afirmar que nossa cidade nos foi usurpada por uma máquina: o automóvel!
A cidade dos carros é cruel com aqueles que desafiam o seu poder motorizado. Pedestres, ciclistas, usuários do transporte público são oprimidos em uma ditadura digna de causar inveja em Gaddafi, Pinochet e companhia. Não há espaço para alternativas e dissidências...
O caso da semana passada, quando um grupo de 'subversivos' teve a ousadia de contrariar o domínio do carro é emblemático e deveria ser tomado como dia do basta!
É preciso, mais do que nunca, deixar claro que o automóvel sozinho não é a solução para os problemas de deslocamentos nas cidades. Como caminhões não resolverão sozinhos os problemas de transporte de cargas pelo país, entupir as cidades de carros não trará mais mobilidade para as pessoas, bem ao contrário.
Essa música tocada com uma única nota já não encanta mais os ouvidos. Outras formas de transitar são possíveis e necessárias para a oxigenação de nosso trânsito. Trens e hidrovias precisam ocupar seus espaços nos transportes de longas distâncias de nosso pais continental; é mais barato, seguro, ecológico e, portanto, mais racional.
Nas cidades, o carro ocupa espaço demais. Metrôs, ônibus elétricos e barcos em cidades banhadas por águas, como Porto Alegre, são as saídas mais inteligentes para transportes de massas, não usá-las é pura burrice. Não prego o fim do automóvel, mas sim a racionalização de seu uso.
Não uso a bicicleta em meu cotidiano. Confesso isso com certa vergonha, pois gostaria de pedalar por Porto Alegre, mas confesso também que tenho medo. Na verdade não encorajo ninguém a pedalar hoje nas ruas, já que isso é normalmente encarado por aqueles que andam em carros quase como uma ofensa, um ataque ao espaço privado do carro. Andar de bicicleta nas vias de uma grande cidade deve ser encarado como esporte radical. Saltar de paraquedas ou voar de asa delta é mais seguro...
Mas ao mesmo tempo em que fico triste com o que acontece, também reacendo minha esperança em dias melhores. Ditaduras caem, comportamentos mudam (mesmo com resistências) e, enquanto houver pessoas que ousam e questionam em busca de uma vida melhor, ainda há esperança!
Torço com grande intensidade que esses 'malucos' que pedalam pelas ruas sejam mais respeitados, que não esmoreçam em sua luta e usem capacetes. Senti vergonha alheia pela atitude desse senhor que acelerou covardemente sobre o grupo de ciclistas, mas ao mesmo tempo tenho orgulho de ver que existem em Porto Alegre pessoas com personalidade e coragem para impor suas ideias.
Talvez tenha chegado o momento, mesmo que tardiamente, dessa cidade requerer simplesmente algo que é de seu direito: a rua para quem anda de bicicleta, a calçada para os pedestres e a cidade de volta para seus verdadeiros donos: as PESSOAS!

20/01/2011

As manchetes que nos envergonham


O mais triste nessa história é que essas manchetes já não causam o impacto que deveriam causar, pois, ao olharmos as estatísticas vemos que a cada ano a violência aumenta, sinal de que estamos inertes, admirando o monstro crescer e ficar mais feroz a cada dia. Ano a ano batemos nossos recordes de mortes, a cada feriado superamos as tragédias do ano anterior, assim segue nossa maldita rotina! Veja os números abaixo.
Número de mortes no trânsito no RS*:
2008 - 1424
2009 - 1479
2010 - 1705
Sinceramente, o que nos resta fazer agora? O ano mal começou e o 'monstro' já dá sinais que continua sedento de sangue. Sugiro que as próximas manchetes sejam escritas da seguinte forma: VERGONHA! O número de acidentes...
Pois do jeito que está só nos resta ter vergonha de nossa estupidez crônica e irracional.


* fonte DETRAN/RS
jornal Zero Hora, edição de 20/01/11