Pesquisar este blog

23/08/2012

É verdade, pode acreditar, eu prometo!


  Em ano eleitoral, mais do que em qualquer outra época, vemos como a espécie humana funciona em sua essência. Quando se inicia a luta institucional pelo poder todas as armas são postas em uso. Nos tempos atuais, não fica bem usar arcos e flechas ou mesmo apontar uma pistola para a cabeça do cidadão para que esse se curve e aceite servilmente um novo mestre. Nos tempos modernos temos mecanismos mais sofisticados para o controle social e a "centralização pacífica" do poder. Como qualquer grande Estado democrático que se preze temos o VOTO! Para conseguir esse precioso objeto de desejo de políticos não é necessário forçar fisicamente ninguém, basta falar o que queremos ouvir, simples assim! Eles nos enganam e nós nos deixamos enganar. Eles nos empurram suas verdades e nós acreditamos que acreditamos neles... Todo ano eleitoral é o mesmo papo... Promessas, promessas e mais promessas. Nobres candidatos, vamos combinar o seguinte, daqui para frente não prometam mais nada. Prefiro saber quais os princípios, como se posicionam eticamente e como entendem o mundo,  isso sim me interessa. Agora, ficar ouvindo seus devaneios e promessas não dá mais... até mesmo por que não acredito mais em promessas.

08/08/2012

"Bicicletas não são carros"



Logo abaixo reproduzo um texto que li no blog "Vá de Bici", que por sua vez traduziu a opinião de um colunista do New York Times a respeito de sua forma de pedalar pela Big Apple e as implicações éticas de sua postura. O fato é que também em cidades como NY existem conflitos e problemas no trânsito, mas talvez a diferença em relação a nós brasileiros seja a forma como cada sociedade posiciona-se a respeito de tais dificuldades. Os Estados Unidos, o "país dos carros" multiplicam-se as ações para restringir o uso do automóvel. A bicicleta está dentro desse novo paradigma: Valorizar outros meios de deslocamento. Nesse sentido, a bicicleta, por ser um meio de transporte também merece seu espaço, ela não é a solução mágica para a mobilidade das cidades, mas é bom lembrar que os carros também não o são. O estranhamento que muitos demonstram ao dividir as vias com as magrelas revela a mentalidade presente, onde a rua é lugar de carro! Randy Cohen, o autor do texto abaixo, diz em determinado momento sobre as críticas aos ciclistas:

"Mas grande parte do ressentimento contra os infratores (ciclistas) como eu, eu suspeito, deriva de uma falsa analogia: a equiparação das bicicletas aos carros. Nesta perspectiva, as bicicletas devem ser reguladas, como carros, e vilipendiado quando os ciclistas desrespeitam essas regras, como se estivéssemos astuciosamente nos dando bem em cima de alguém. Mas bicicletas não são carros. Carros andam três ou quatro vezes mais rápido e pesa 200 vezes mais. Ao conduzir de forma perigosa, você pode ferir os outros; se pedalar perigosamente, eu posso ferir a mim mesmo. Eu tenho a pele em jogo. E o sangue. E os ossos..."


Os conflitos cada vez mais frequentes entre quem pedala e outros usuários do espaços público demonstra que as bicicletas vieram para ficar, não adianta reclamar, isso é fato (e penso ser um fato positivo). A questão que se impõe é como reorganizaremos nossas cidades e mais importante: Como nos reeducaremos para conviver em cidades que não aceitarão mais o domínio exclusivo dos carros?

Se Kant fosse um ciclista em Nova Iorque

"O ciclista infrator de regras que as pessoas condenam, este sou eu. Rotineiramente furo o sinal vermelho, e você também. Eu desrespeito a lei, quando estou na minha bici, você faz isso também quando está a pé, pelo menos se você for como a maioria dos nova-iorquinos. Meu comportamento incomoda pedestres, motoristas e até mesmo alguns dos meus colegas ciclistas. Condutas semelhantes renderam multas e aulas de reabilitação para ciclistas.
Mas embora seja ilegal, eu acredito que é ético. Eu não tenho tanta certeza disso quando você passa despreocupadamente no cruzamento contra a luz, enquanto manda um torpedo, ouve seu iPod e bebe um martini.
Eu passo no sinal vermelho se, e somente se, nenhum pedestre está na faixa de pedestre e nenhum carro está na intersecção – isto é, se não prejudico a mim ou qualquer outra pessoa. Em outras palavras, eu trato o sinal vermelho e placas de PARE como se fossem sinais de dar a preferência. A preocupação fundamental da ética é o efeito de nossas ações sobre os outros. Minhas ações não prejudicam ninguém. Este raciocínio moral pode não influenciar o policial que está me multando, mas passaria no teste do imperativo categórico de Kant: Eu acho que todos os ciclistas podiam – e deviam – andar como eu.
Eu não sou anarquista, eu sigo a maioria das leis de trânsito. Eu não ando na calçada (OK, exceto para os últimos 25 metros entre o corte de meio-fio e minha porta da frente, e com muito cuidado). Eu não dou uma de salmão, ou seja, pedalo na contramão. Na verdade, até minhas furadas nos cruzamentos são legais, em alguns lugares.
Paul Steely White, diretor-executivo de Transportation Alternatives, um grupo de cicloativismo do qual sou membro, aponta que em muitas legislações, Idaho por exemplo, permitem que os ciclistas reduzam e passem pelos cruzamentos após dar preferência aos pedestres. Sr. White me escreveu por email: “Costumo dizer que é muito mais importante entrar em sintonia com os pedestres em vez de entrar em sintonia com as luzes, especialmente porque muitos pedestres andam de forma desavisada!”
Se a minha quebra de regras é ética e segura (e em Idaho é legal), por que incomodar alguém? Talvez seja porque nós, humanos, não somos bons no momento da avaliação dos perigos que enfrentamos. Se fôssemos, nós perceberíamosmos que as bicicletas são uma ameaça minúscula, são os carros e caminhões que nos ameaçam. No último trimestre de 2011, os ciclistas de Nova Iorque não mataram nenhum pedestre e feriu 26. Durante o mesmo período, os motoristas mataram 43 pedestres e feriram 3.607.
Os carros também nos prejudicam de forma insidiosa, em câmera lenta. Emissões agravam problemas respiratórios, corroem as fachadas dos edifícios, aceleram o aquecimento global. Para manter o petróleo fluindo, fazemos dúbias decisões de política externa. Carros promovem a subutilização do território e desencorajam o caminhar, contribuindo para a obesidade e outros problemas de saúde. Isso sem falar do barulho.
Grande parte dessa assustadora devastação é legal; mas bem pouco ética, pelo menos quando, como em Manhattan, existem verdadeiras alternativas ao automóvel particular. Mas porque nós deixamos há tanto tempo os carros dominarem a vida da cidade, nós assumimos que ele e seus efeitos maléficos, são um mal necessário. O aumento no ciclismo, é um fenômeno recente: estamos atentos a seus caprichos.
Mas grande parte do ressentimento contra os infratores como eu, eu suspeito, deriva de uma falsa analogia: a equiparação das bicicletas aos carros. Nesta perspectiva, as bicicletas devem ser reguladas, como carros, e vilipendiado quando os ciclistas desrespeitam essas regras, como se estivéssemos astuciosamente nos dando bem em cima de alguém. Mas bicicletas não são carros. Carros andam três ou quatro vezes mais rápido e pesa 200 vezes mais. Ao conduzir de forma perigosa, você pode ferir os outros; se pedalar perigosamente, eu posso ferir a mim mesmo. Eu tenho a pele em jogo. E o sangue. E os ossos.
Nem os pedestres ciclistas, é claro (pelo menos não enquanto estamos pedalando). Isso é uma terceira coisa, um modo distinto de transporte, exigindo práticas e regras diferentes. Isso é compreendido em Amsterdã e Copenhague, onde pessoas de todas as idades pedalam. Estas cidades tratam bici como bici. Extensas redes de ciclovias protegidas fornecem infra-estrutura para o ciclismo seguro. Alguns semáforos estão programados para a velocidade das bicicletas em vez de carros. Algumas leis presumem que em uma colisão bici-carro, o veículo mais pesado e mais mortal é culpado. Talvez com o lançamento do programa de bicicletas públicas de  Nova Iorque, isto se torne o caso por aqui.
Leis funcionam melhor quando são seguidas voluntariamente porque as pessoas as consideram razoáveis. Não há policiais suficientes para coagir todos a obedecer todas as leis o tempo todo. Se as leis de bicicleta fossem uma sábia resposta à situação da ciclomobilidade em vez de um remendo das leis existentes para os veículos a motor, eu suspeito que o cumprimento, até mesmo por mim, iria subir.
Eu escolho o meu estilo de pilotagem consciente da minha própria segurança e dos meus vizinhos, mas também em busca da felicidade. Movimentar-se de forma ininterrupta, deslizar silenciosamente e rapidamente, é uma alegria. É por isso que eu pedalo. E é por isso que Stephen G. Breyer diz que, às vezes, ele vai trabalhar de bicicleta no Supremo Tribunal Federal: “As vantagens? Exercício, não tenho problema de estacionamento, o preço da gasolina, é divertido. Um automóvel é caro. Você tem que encontrar um lugar para estacionar e não é divertido. Então por que não andar de bicicleta? Eu recomendo. “Eu não sei se ele fura o sinal vermelho. Espero que sim."

03/08/2012

Hobbes ou Rousseau?

A velha discussão entre Hobbes e Rousseau pede espaço:  O Homem é  naturalmente bom e se corrompe pela ação da sociedade; ou  é naturalmente voltado para a violência e somente uma estrutura social forte e bem organizada pode tirá-lo da selvageria total conforme defendia Hobbes?

Tenho dificuldade em aceitar definições tão taxativas como essas. Certa vez já escrevi aqui nesse blog que nossa humanidade é, em síntese, marcada pela nossa capacidade de não sermos coerentes ou previsíveis! Dessa forma vejo que as conjugações de espaço/tempo e sociedade podem favorecer mais a atitudes de agressão e egoísmo ou  a comportamentos de solidariedade e civilidade. 
 

Quando analisamos, de forma geral o trânsito brasileiro, é provável  que as perspectivas Hobbes tenham seus princípios comprovados. Mas, no entanto, como explicar que em alguns lugares do planeta a insanidade sobre rodas parece estar sendo fortemente controlada? Países como Suécia, Dinamarca, Japão e outros, ano a ano, reduzem seus índices de traumas, mortes e danos materiais em suas relações sociais de deslocamento?

Caso aceitemos a premissa de que tanto na Suécia como no Brasil as pessoas são da mesma espécie. E que tanto as pessoas de lá como as pessoas daqui  têm os mesmos potenciais cognitivos, então teremos também que aceitar que as relações sociais no trânsito brasileiro podem ser diferentes. Ao analisarmos outras experiências, fica claro que é preciso mudar a conjuntura socio-cultural para também atingir a melhoria na qualidade de nosso transitar.

Não sei se somos essencialmente lobos, cordeiros ou mesmo ratos de laboratório esperando os estímulos corretos para não nos matarmos no trânsito. Talvez não tenhamos encontrado a resposta por que não aprendemos ainda a fazer as perguntas certas.

Não tenho mais certezas, somente aumentei as minhas dúvidas.  Antes fosse tão simples, antes fosse somente uma questão de saber se o bem ou mal nos conduz pela existência. Hoje, as soluções me parecem mais complexas e passam necessariamente por mudanças de estruturais em nossos valores sociais. Mas isso também é somente mais uma percepção, talvez como uma criação mitológica, nossa humanidade esteja mais próxima de ser um ser híbrido. Um ser em que o bem, o mal  e  o mais ou menos coabitam.  Certeza somente que minhas dúvidas seguem apesar de Rousseau e Hobbes....

01/08/2012

Calçada, essa incompreendida!

Certa vez ouvi alguém dizer que o nível de cidadania de uma sociedade se deveria medir pela largura de suas calçadas (no cálculo do IDH deveria se levar em conta as mesmas). Com a explosão no número de carros em nossas vias nos últimos anos, as calçadas vêm sofrendo agressões cada vez mais intensas. A pressão por mais áreas de estacionamentos e mais espaços para a circulação de carros intensificam esses movimentos de ataque aos passeios públicos.