Pesquisar este blog

01/03/2011

De quem é essa cidade???


De quem é essa cidade?

De quem é essa cidade, afinal? Essa é a pergunta que me vem à cabeça quando leio as notícias sobre o nosso trânsito. Sinto uma quase depressão, uma tristeza que me aperta o peito e faz pensar se é esse o lugar que quero para criar meus filhos, cultivar amizades e depositar minha existência. Será que é possível viver feliz em um lugar no qual máquinas são mais importantes que pessoas?
Em Porto Alegre (e em milhares de outras cidades) a regra é bem clara: A PRIORIDADE É PARA QUEM TEM CARRO. Os que ousam desafiar esse pensamento são vistos como lunáticos, seres quixotescos que não devem ser levados muito a sério. Os carros não têm vida, nada mais são do que pedaços de metal e outros componentes, criados pelo homem para nos servir... Mas o fato é que o carro e toda a ideologia embutida em seu uso traz consigo um pesado fardo para a vida em comunidade. Poluição, acidentes, ocupação de espaços verdes para a construção de estacionamentos e pistas de rolamento seguem em um ritmo frenético e que nunca será saciado.
A prefeitura (a atual e anteriores) segue a mesma cartilha surrada há décadas, privilegiando as máquinas e esquecendo das pessoas. Quantas ciclovias foram efetivamente feitas? Quantas pessoas, todos os dias, tropeçam em calçadas desniveladas, esburacadas e mal iluminadas? Pergunto: isso também não são acidentes de trânsito? Calçadas e ciclovias não merecem também a nossa atenção?
Esses são apenas alguns dos motivos que me levam a afirmar que nossa cidade nos foi usurpada por uma máquina: o automóvel!
A cidade dos carros é cruel com aqueles que desafiam o seu poder motorizado. Pedestres, ciclistas, usuários do transporte público são oprimidos em uma ditadura digna de causar inveja em Gaddafi, Pinochet e companhia. Não há espaço para alternativas e dissidências...
O caso da semana passada, quando um grupo de 'subversivos' teve a ousadia de contrariar o domínio do carro é emblemático e deveria ser tomado como dia do basta!
É preciso, mais do que nunca, deixar claro que o automóvel sozinho não é a solução para os problemas de deslocamentos nas cidades. Como caminhões não resolverão sozinhos os problemas de transporte de cargas pelo país, entupir as cidades de carros não trará mais mobilidade para as pessoas, bem ao contrário.
Essa música tocada com uma única nota já não encanta mais os ouvidos. Outras formas de transitar são possíveis e necessárias para a oxigenação de nosso trânsito. Trens e hidrovias precisam ocupar seus espaços nos transportes de longas distâncias de nosso pais continental; é mais barato, seguro, ecológico e, portanto, mais racional.
Nas cidades, o carro ocupa espaço demais. Metrôs, ônibus elétricos e barcos em cidades banhadas por águas, como Porto Alegre, são as saídas mais inteligentes para transportes de massas, não usá-las é pura burrice. Não prego o fim do automóvel, mas sim a racionalização de seu uso.
Não uso a bicicleta em meu cotidiano. Confesso isso com certa vergonha, pois gostaria de pedalar por Porto Alegre, mas confesso também que tenho medo. Na verdade não encorajo ninguém a pedalar hoje nas ruas, já que isso é normalmente encarado por aqueles que andam em carros quase como uma ofensa, um ataque ao espaço privado do carro. Andar de bicicleta nas vias de uma grande cidade deve ser encarado como esporte radical. Saltar de paraquedas ou voar de asa delta é mais seguro...
Mas ao mesmo tempo em que fico triste com o que acontece, também reacendo minha esperança em dias melhores. Ditaduras caem, comportamentos mudam (mesmo com resistências) e, enquanto houver pessoas que ousam e questionam em busca de uma vida melhor, ainda há esperança!
Torço com grande intensidade que esses 'malucos' que pedalam pelas ruas sejam mais respeitados, que não esmoreçam em sua luta e usem capacetes. Senti vergonha alheia pela atitude desse senhor que acelerou covardemente sobre o grupo de ciclistas, mas ao mesmo tempo tenho orgulho de ver que existem em Porto Alegre pessoas com personalidade e coragem para impor suas ideias.
Talvez tenha chegado o momento, mesmo que tardiamente, dessa cidade requerer simplesmente algo que é de seu direito: a rua para quem anda de bicicleta, a calçada para os pedestres e a cidade de volta para seus verdadeiros donos: as PESSOAS!