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09/04/2013

Aprender (esquecer)

Rubens Alves diz que: "O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez o seu trabalho." Concordo plenamente! 
No meu caso, em especial, o esquecimento trabalha de forma quase desumana, sem cessar. As vezes penso que deveria negociar uma redução de carga horária com essa figura, mas infelizmente não consigo nunca marcar essa reunião...
Não penso que seja tão ruim assim esquecer certas coisas, acredito inclusive que tenhamos mais benefícios que problemas com a nossa produção em séria de esquecimentos. O 'esquecimento seletivo'  é uma espécie de sistema de proteção de nossa saúde mental. Imaginem a quantidade de bobagens a que estamos expostos diariamente, poder esquecer é uma dádiva! 
O problema é quando esse sistema de proteção da saúde mental começa a entrar em colapso e sai apagando de nossa memória saberes e APRENDIZADOS. Nesse caso, como uma doença autoimune, aquilo que poderia ser bom, passa a ser um grave problema. 
Em resumo, esquecer algumas besteiras, ok! Esquecer aquilo que aprendemos e torna a nossa vida melhor, não! 


     Quando falamos de nosso transporte público, mais especificamente dos ônibus, verificamos que a forma de gestão/administração desse sistema é praticamente a mesma nos últimos 40 ou 50 anos. Desenvolvemos uma expertise, um acúmulo de saberes e essa forma (ou fórmula de gerir) se repete por décadas a fio, com um ou outro pequeno ajuste. A crítica que faço é que realmente APRENDEMOS UMA FORMA de administrar os sistema de ônibus, mas não podemos ESQUECER que mudar é uma necessidade, uma questão de sobrevivência...

Achava-se (e ainda muitos acham) que:

   Os usuários de transporte público não teriam outra opção, a não ser usar o ônibus;
   Os investimentos nas vias sempre poderiam ser ampliados;
   O preço da tarifa do ônibus deveria poder pagar todos os custos de operação;
   Os usuários não tinham poder de organização;
   A qualidade não era um dos principais fatores levados em conta pelos usuários;
   O transporte público é um mal necessário;
   O transporte público é para a população menos abastada (pobre).

 Mas é preciso lembrar que:

  O usuário na verdade é um cidadão/cliente;
  A concorrência com o carro é desleal e insustentável a longo prazo;
  As vias públicas tem limite de expansão e investimento;
  Os custos do não uso do transporte público são maiores do que o de seu uso;
  A população/sociedade organizada pode e deve influir na gestão do transporte;
  Sem qualidade não há transporte público viável;
  A forma de gestão atual do transporte público chegou a seu limite, novos modelos são urgentes.

      É hora de novos aprendizados, novos saberes estão sendo construídos em várias partes do mundo na forma de pensar a mobilidade. É o momento de falar e colocar em prática outros paradigmas. Por exemplo:

"A ideia de gratuidade no transporte vai contra tudo o que nos disseram sobre o assunto aqui no Brasil, a saber: sem pagamento, o sistema ficaria sem recursos, e em algum momento se tornaria inviável. Mas existem teóricos e administradores públicos que defendem que é economicamente viável – ou até preferível – que as pessoas não paguem por ele.
As vantagens de não se cobrar pelo uso de trens e ônibus são várias: promoção de uma certa justiça social, já que o peso do pagamento de transporte público é grande para a população mais pobre, que é a que mais precisa dele; redução da emissão de poluentes; menos poluição sonora; redução do uso de combustíveis fósseis; diminuição dos gastos em obras viárias, já que o carro seria menos necessário; aumento do uso do espaço público, pois as pessoas precisariam andar mais nas ruas para usar o transporte; eliminação dos gastos com o sistema de cobrança, entre outras.
Em Châteauroux, cidade de 49 mil habitantes, a média de uso do ônibus era de 21 viagens por ano, contra uma média de 38 em outras cidades pequenas da França. Depois da implementação da gratuidade, esse número saltou para 61 viagens por ano. Em Hasselt, o uso do transporte público subiu mais de 1000% desde que passou a ser gratuito." fonte: pragmatismo político

  
  Quanto maior a mobilidade em uma cidade maior é a oxigenação da economia, da política dos direitos e das possibilidades de crescimento de seus cidadãos. Novas perguntas nos levarão a novas respostas e novas soluções somente serão possíveis se tivermos a capacidade de esquecer o modelo atual e constituir algo novo em seu lugar.