Rubens Alves diz que:
"O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez o
seu trabalho." Concordo plenamente!
No meu caso, em especial, o esquecimento trabalha
de forma quase desumana, sem cessar. As vezes penso que deveria
negociar uma redução de carga horária com essa figura, mas
infelizmente não consigo nunca marcar essa reunião...
Não penso que seja tão ruim assim esquecer
certas coisas, acredito inclusive que tenhamos mais benefícios que
problemas com a nossa produção em séria de esquecimentos. O
'esquecimento seletivo' é uma espécie de sistema de proteção
de nossa saúde mental. Imaginem a quantidade de bobagens a que
estamos expostos diariamente, poder esquecer é uma dádiva!
O problema é quando esse sistema de proteção da
saúde mental começa a entrar em colapso e sai apagando de nossa
memória saberes e APRENDIZADOS. Nesse caso, como uma doença
autoimune, aquilo que poderia ser bom, passa a ser um grave
problema.
Em resumo, esquecer algumas besteiras, ok!
Esquecer aquilo que aprendemos e torna a nossa vida melhor, não!
Quando falamos de nosso transporte público,
mais especificamente dos ônibus, verificamos que a forma de
gestão/administração desse sistema é praticamente a mesma nos
últimos 40 ou 50 anos. Desenvolvemos uma expertise, um acúmulo de
saberes e essa forma (ou fórmula de gerir) se repete por décadas a
fio, com um ou outro pequeno ajuste. A crítica que faço é que
realmente APRENDEMOS UMA FORMA de administrar os sistema de
ônibus, mas não podemos ESQUECER que mudar é uma necessidade, uma questão de
sobrevivência...
Achava-se (e ainda muitos acham) que:
Os usuários de transporte público não
teriam outra opção, a não ser usar o ônibus;
Os investimentos nas vias sempre
poderiam ser ampliados;
O preço da tarifa do ônibus deveria
poder pagar todos os custos de operação;
Os usuários não tinham poder de
organização;
A qualidade não era um dos
principais fatores levados em conta pelos usuários;
O transporte público é um mal
necessário;
O transporte público é para a
população menos abastada (pobre).
Mas é preciso lembrar que:
O usuário na verdade é um
cidadão/cliente;
A concorrência com o carro é desleal e insustentável a longo prazo;
As vias públicas tem limite de expansão e
investimento;
Os custos do não uso do transporte público
são maiores do que o de seu uso;
A população/sociedade organizada pode e
deve influir na gestão do transporte;
Sem qualidade não há transporte público
viável;
A forma de gestão atual do transporte
público chegou a seu limite, novos modelos são urgentes.
É hora de novos aprendizados, novos saberes estão
sendo construídos em várias partes do mundo na forma de pensar a
mobilidade. É o momento de falar e colocar em prática outros
paradigmas. Por exemplo:
"A ideia de gratuidade no
transporte vai contra tudo o que nos disseram sobre o assunto aqui no
Brasil, a saber: sem pagamento, o sistema ficaria sem recursos, e em
algum momento se tornaria inviável. Mas existem teóricos e
administradores públicos que defendem que é economicamente viável
– ou até preferível – que as pessoas não paguem por ele.
As vantagens de não se cobrar
pelo uso de trens e ônibus são várias: promoção de uma certa
justiça social, já que o peso do pagamento de transporte público é
grande para a população mais pobre, que é a que mais precisa dele;
redução da emissão de poluentes; menos poluição sonora; redução
do uso de combustíveis fósseis; diminuição dos gastos em obras
viárias, já que o carro seria menos necessário; aumento do uso do
espaço público, pois as pessoas precisariam andar mais nas ruas
para usar o transporte; eliminação dos gastos com o sistema de
cobrança, entre outras.
Em Châteauroux, cidade de 49 mil
habitantes, a média de uso do ônibus era de 21 viagens por ano,
contra uma média de 38 em outras cidades pequenas da França. Depois
da implementação da gratuidade, esse número saltou para 61 viagens
por ano. Em Hasselt, o uso do transporte público subiu mais de 1000%
desde que passou a ser gratuito." fonte: pragmatismo
político.
Quanto maior a mobilidade em uma cidade maior é a
oxigenação da economia, da política dos direitos e das
possibilidades de crescimento de seus cidadãos. Novas perguntas nos
levarão a novas respostas e novas soluções somente serão
possíveis se tivermos a capacidade de esquecer o modelo atual e
constituir algo novo em seu lugar.