O medo de balas
perdidas ou assaltos à mão armada fez do Brasil o maior mercado de
carros blindados do mundo, mas a crise econômica pressiona muitos
compradores a optarem por veículos usados. "Eu gosto de carros,
mas prefiro não gastar muito dinheiro com isso", diz Maurício
Paulo, de 40 anos, dirigindo seu Volvo XZ 60 blindado usado.
Maurício, que é advogado em São Paulo já teve três veículos
desse tipo antes. O primeiro foi comprado logo após ter sido
assaltado ao parar num sinal vermelho. O nascimento de sua filha há
um ano e meio o fez ter ainda mais certeza de sua opção por carros
blindados, mas o faz ainda a privilegiar uma solução mais
econômica.
A blindagem de um veículo novo custa cerca de 50
mil reais, quase o suficiente para comprar outro carro, dependendo do
modelo. É por isso que optar por um carro usado pode permitir uma
economia de 10 a 40%.
Questão de
status
Mas esse boom realmente atende a uma necessidade?
Três quartos das blindagens são feitas em São Paulo, onde se
concentra a grande maioria da frota de 150 mil veículos blindados do
país, de acordo com a Abrablin. Mas o estado de São Paulo, motor
econômico do país, também é o que registrou a menor taxa de
homicídios no Brasil no ano passado, 10,9 para 100 mil, em
comparação com uma média nacional de 30,3.
Nos estados pobres do Nordeste, são poucos os
motoristas que dirigem carros blindados, apesar dos índices de
homicídio de mais de 60 por 100 mil em alguns casos. "Possuir
um carro blindado no Brasil é, acima de tudo, uma marca de status
social", considera o presidente da Abrablin. "As pessoas
estão mais preocupadas com seu status do que com sua segurança, e
muitas vezes a mulher fica com ciúmes do vizinho que é dono de um e
pede ao marido", insiste.
Mauricio Paulo admite que se sente desconfortável
com o acesso desigual a carros blindados. "Aqueles que têm mais
meios podem se proteger melhor, enquanto outros podem perder suas
vidas por causa de algo tão fútil quanto um carro", diz ele,
parando em um sinal vermelho.